Mostrando postagens com marcador Educação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Educação. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 21 de março de 2012

Educação à distância transforma a vida de milhares de pessoas no Brasil




Até faculdades de medicina adotam essa modalidade. Veja as vantagens e os desafios que a tecnologia oferece na reportagem de Neide Duarte.

Corrupção se combate com cadeia, fiscalizando e denunciando. E muito importante: com educação também. O Brasil registra um fenômeno que merece aplausos e comemoração: o sucesso do ensino à distância. Esse tipo de ensino está mudando a vida de milhões de brasileiros, principalmente de quem não tem horário para estudar ou que mora em lugares distantes.
No ano passado, foram credenciados 208 cursos à distância no país. Até as faculdades de medicina têm adotado essa modalidade. Mas é preciso ter disciplina para acompanhar as aulas.
O técnico em agropecuária Cássio Bueno acaba de passar no vestibular. Ele mora em São Paulo, mas vai fazer faculdade de gestão em agronegócios, em Maringá, no estado do Paraná. “Posso falar que em um raio de 350 quilômetros longe da capital, eu consigo em qualquer pastagem ou no meio de uma plantação em determinado horário destinar esse período para estudo”, conta Cássio.
Todos os dias Ricardo Holtz, que é presidente da Associação Brasileira de Estudantes de Educação à Distância (Abed), estudava pela internet, em casa ou no trabalho. Uma vez por semana tinha uma aula presencial em São Paulo.
“A gente tinha um telão na sala de aula ao vivo com o professor, inclusive com a possibilidade de interagir com esse professor em Curitiba. A gente enviava algumas perguntas por meio de um 0800, as perguntas eram pré-selecionadas e ele respondia ao vivo tirando as nossas duvidas“, lembra Ricardo.
A secretária Sônia Luiza Martins faz o curso de gestão pública pela Faculdade de Tecnologia de Curitiba no escritório onde trabalha, depois do expediente ou em algum momento de folga. Ela sabe que estudar à distância não é para qualquer tipo de aluno.
“Minha formação vai depender 100% de mim. Se eu não for disciplinada e organizada, eu não vou me sair bem nas provas e automaticamente não vou ser um bom profissional. Então, procuro ser bem disciplinada e organizada”, afirma Sônia.
Pelo menos um milhão de alunos estão matriculados em cursos autorizados pelo Ministério da Educação, e mais de um 1,5 milhão estão em cursos livres.
“Se eu sinto falta de um determinado conteúdo, eu vou à biblioteca estudar e aprofundar aquele assunto da aula. A gente acaba sendo autodidata. Essa questão de você perder ou ganhar conteúdo isso depende de cada aluno”, disse um estudante em Fortaleza.
“Ninguém vai poder manter sua posição no mercado de trabalho sem fazer um curso de atualização pelo menos uma vez por ano. E sair do trabalho para ficar duas semanas assistindo a um curso ninguém pode fazer. A empresa não vai soltar a pessoa para isso. Então, educação à distancia é a solução para isso”, argumenta Fredric Litto, professor titular de Comunicação da USP e presidente da Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed).
E a qualidade? Cursar uma faculdade à distância não pode ser pior do que frequentar um curso presencial? Quem responde é o cirurgião e professor livre docente de cirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), João Luiz Azevedo. Ele mostra uma aula para os terceiranistas de medicina. A aula é obrigatória e deve ser feita pelo computador. O aluno, com o mouse, procura o lugar certo para penetrar com uma agulha no abdômen do paciente.
“Tudo isso é registrado: o número de erros, quantas vezes ele acessou, o tempo de cada acesso. Tudo isso é registrado e faz com que a gente possa elaborar uma avaliação do interesse e da proficiência daquele aluno”, explica o professor. “Você pode ensinar aos alunos como fazer uma punção em casa. Ele aprende os princípios básicos, intelectuais e teóricos do procedimento. Na execução, ele se dará tão bem quanto aqueles que foram ensinados presencialmente a esse aprendizado teórico de um procedimento prático que ele fará”.
Apesar de os cursos universitários à distância terem sido aprovados pelo MEC em 2002, só agora, em outubro de 2010, a Universidade de São Paulo (USP) abriu o seu primeiro programa de formação à distância: licenciatura em Ciências. “A ideia básica é contribuir para aumentar o número de professores bem formados pelas universidades estaduais”, diz a pró-reitora de graduação da USP, Telma Tenório.
“Sem dúvida alguma, a educação à distância mudou minha vida, e tenho certeza que pode mudar a vida de muitos outros brasileiros como eu, que por um motivo ou por outro não conseguiram ingressar no Ensino Superior ou por falta de tempo ou por falta de recursos financeiros”, conta Ricardo Holz.
“Para atender os milhões, de 6 milhões a 30 milhões de estudantes, educação à distância gratuita. Um país de 200 milhões de pessoas, é meio vergonhoso que só tenha seis milhões matriculados no Ensino Superior”, aponta Fredric Litto, presidente da Abed.
O último levantamento do setor, feito em 2009, mostrou que no Brasil já existiam quase 2,8 mil cursos de ensino à distância, entre profissionalizantes, de graduação, pós-graduação e extensão.
De acordo com o Ministério da Educação, a região com o maior número de escolas públicas que solicitaram o registro de cursos à distância foi o Nordeste. Foram 31 no ano passado.

Bom Dia Brasil- Edição do dia 11/02/2011

Vem, me dê a mão- Solidariedade


Vem, me dê a mão

A solidariedade precisa ser trabalhada com as crianças todo dia, em casa e também na escola. Só assim elas aprenderão o quanto é importante ajudar o próximo



Ana Lúcia Neiva e Ana Carolina Carvalho
Máxima - 02/2012
A gratidão de quem recebe um benefício é sempre menor que o prazer daquele que o faz", já dizia sabiamente o escritor Machado de Assis no conto Almas Agradecidas, na Série Bom Livro (Ed. Ática). Estudos mostram que após a pessoa promover uma atitude solidária, o cérebro libera a substância endorfina, provocando sensação de felicidade. Há 11 anos, os 490 alunos do colégio particular Batista Eleutério Rocha, da cidade de Pedreiras (MA), compartilham desse sentimento. Imbuídos de um grande espírito solidário, eles "adotam" uma escola pública municipal para distribuir brinquedos e lanches e fazer apresentações culturais. Em Boa Vista (RR), outro exemplo: no Centro Educacional Objetivo Macunaíma os 590 estudantes se reúnem para entregar doações a instituições carentes. 

Na cidade gaúcha de Nova Prata, os 1200 alunos do Instituto Estadual de Educação Tiradentes arrecadaram alimentos, roupas, livros... para distribuir aos necessitados num projeto chamado Gincana Solidária. De norte a sul do país são inúmeros os projetos criados por professores visando ao bem estar do próximo. "Pesquisas recentes revelam a importância de valores como a solidariedade serem trabalhados nas escolas e o quanto é essencial para as crianças praticá los desde pequeninas", diz Luciene Tognetta, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Universidade Estadual Paulista (Unesp). 

EXERCÍCIO DIÁRIO 
Segundo a educadora, o conceito de solidariedade nas escolas é construído por meio do convívio social, dia após dia, pois é no cotidiano que as crianças desenvolvem as virtudes. "Por exemplo, quando há conflito entre dois alunos, o professor deve promover o diálogo entre eles: ao se expressarem e dizerem o que os incomoda eles aprendem a olhar o outro com generosidade", explica Luciene. 

Mas a família também tem papel fundamental na construção desse caráter. "É preciso que a criança sinta a união de pais e irmãos e os vejam praticando a solidariedade entre eles mesmos", comenta o psicoterapeuta e educador Leo Fraiman (SP). Fisiologicamente, fazer o bem é muito saudável: estudo realizado pela Universidade de Harvard (EUA), com cerca de 2700 pessoas, apontou que ser solidário e praticar algum trabalho voluntário é benéfico ao coração e ao sistema imunológico, além de aumentar a expectativa de vida. 

4 PASSOS QUE ESTIMULAM A SOLIDARIEDADE Para que o seu filho se torne um cidadão do bem — daqueles que auxiliam alguém a atravessar a rua, doam, emprestam...—, ele precisa ser motivado desde a infância. Veja como incentivá lo: 

1- Ensine a compartilhar As crianças estão discutindo por um brinquedo? Simplesmente tire o delas e diga que você só o devolverá quando elas entenderem que devem brincar juntas ou aprender a emprestar. "Para não ter dor de cabeça, muitos pais preferem resolver o problema comprando um brinquedo igual para cada filho, reforçando o individualismo e gerando o egoísmo. O distanciamento das pessoas faz com que elas nunca enxerguem as necessidades do outro", diz o psiquiatra Içami Tiba (SP). 

2 - Encoraje as iniciativas solidárias 
Caso a escola esteja promovendo alguma ação solidária, estimule seu filho a participar. Melhor: pai e mãe devem se informar sobre o projeto e verificar como podem colaborar efetivamente. "Contribuir apenas com dinheiro é algo muito cômodo, preguiçoso. É importante que os pais expliquem para as crianças o significado de vestir a camisa, se engajar", avisa Fátima Balthazar, arte educadora e assessora pedagógica especialista em valores humanos (SP). Acima de tudo, mostre que devemos fazer o bem incondicionalmente, sem esperar nada em troca. 

3 - Não trabalhe pela criança A sua não colaboração pode acontecer numa situação simples, como não ajudálo a arrumar a bagunça dos brinquedos. É importante que o pequeno entenda que cooperar com a mãe e o pai para manter a casa em ordem é ser solidário. Ensine que cada um deve dar o melhor de si para o outro e que quando a gente se ajuda todo mundo sai ganhando. 

4 - Evite comparações 
Se você tem um filho solidário e o outro não, respeite o jeito de agir de cada um e trabalhe para mudar o cenário. Observe com atenção o cotidiano da criança menos solidária e, ao perceber qualquer atitude generosa dela, elogie e a faça entender que aquilo é solidariedade. Mostre o quanto a outra parte ficou feliz e o bem estar que ela própria acabou sentindo. Incentive a a agir mais assim. 

MUITO TRABALHO A FAZER Apesar de muitos brasileiros serem solidários e não medirem esforços para ajudar o próximo, ainda estamos caminhando muito devagar nesse sentido. Uma pesquisa recente realizada pela Charities Aid Foundation (instituição de caridade do Reino Unido) e o Instituto Gallup, em 153 países do mundo, avaliou que o Brasil ocupa a 76ª posição no ranking mundial de caridade. Somos menos solidários que a média da população mundial! Os países mais altruístas são Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Irlanda e Suíça. Está aí um bom motivo para desenvolvermos a solidariedade desde a infância. 

ENTRE NESTE JOGO! 
No livro A Formação da Personalidade Ética: Estratégias de Trabalho com Afetividade na Escola, a educadora Luciene Tognetta ensina jogos que desenvolvem as virtudes na criança. Que tal sugerir a diversão abaixo na escola de seu filho — ou aproveitá-la para brincar em casa? 

• Como montar: escreva as virtudes em tiras de papéis (solidariedade, respeito, tolerância, polidez, gratidão...) e coloque cada uma num envelope. 

• Regra do jogo: as crianças sentam se em círculo e os envelopes são espalhados no meio da roda. Uma delas escolhe um e lê a virtude sorteada. Você ou o professor organizam a discussão sobre a virtude perguntando, em primeiro lugar, se todos compreendem seu significado. Depois discutem, dão exemplos de como ela pode fazer parte do cotidiano e questionam se já a exercitaram naquele dia. 


domingo, 18 de março de 2012



PEDAGOGIA

Pierre Bourdieu

O sociólogo francês detectou mecanismos de conservação e reprodução em todas as áreas da atividade humana, entre elas o sistema educacional

01/07/2011 00:44
Texto Márcio Ferrari
Nova-Escola 
Foto: As pesquisas de Bourdieu exerceram forte influência na Educação durante os anos 70 e 80
As pesquisas de Bourdieu exerceram forte influência na Educação durante os anos 70 e 80
Frases de Pierre Bourdieu:
“Não há democracia efetiva sem um verdadeiro poder crítico”


“Nada é mais adequado que o exame para inspirar o reconhecimento dos veredictos escolares e das hierarquias sociais que eles legitimam”




Pierre Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da França. Fez os estudos básicos num internato em Pau, experiência que deixou nele profundas marcas negativas. Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em Paris, e na Escola Normal Superior. Três anos depois, graduou-se em filosofia. Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa), onde retomou a carreira acadêmica e escreveu o primeiro livro, sobre a sociedade cabila. De volta à França, assumiu a função de assistente do filósofo Raymond Aron (1905-1983) na Faculdade de Letras de Paris e, simultaneamente, filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, do qual veio a ser secretário-geral. Bourdieu publicou mais de 300 títulos, entre livros e artigos. Fundou as publicações Actes de la Recherche en Sciences Sociales e Liber. Em 1982, propôs a criação de uma “sociologia da sociologia” em sua aula inaugural no Collège de France, levando esse objetivo em frente nos anos seguintes. Quando morreu de câncer, em 2002, foi tema de longos perfis na imprensa européia. Um ano antes, um documentário sobre ele, Sociologia É um Esporte de Combate, havia sido um sucesso inesperado nos cinemas da França. Entre seus livros mais conhecidos estão A Distinção (1979), que trata dos julgamentos estéticos como distinção de classe, Sobre a Televisão (1996) eContrafogos (1998), a respeito do discurso do chamado neoliberalismo.


Embora a maioria dos grandes pensadores da educação tenha desenvolvido suas teorias com base numa visão crítica da escola, somente na segunda metade do século 20 surgiram questionamentos bem fundamentados sobre a neutralidade da instituição. Até ali a instrução era vista como um meio de elevação cultural mais ou menos à parte das tensões sociais. O francês Pierre Bourdieu empreendeu uma investigação sociológica do conhecimento que detectou um jogo de dominação e reprodução de valores.


Suas pesquisas exerceram forte influência nos ambientes pedagógicos nas décadas de 1970 e 1980. “Desde então, as teorias de reprodução foram criticadas por exagerar a visão pessimista sobre a escola”, diz Cláudio Martins Nogueira, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. “Vários autores passaram a mostrar que nem sempre as desigualdades sociais se reproduzem completamente na sala de aula.” Na essência, contudo, as conclusões de Bourdieu não foram contestadas.


Na mesma época em que as restrições a sua obra acadêmica se tornaram mais freqüentes, a figura pública do sociólogo ganhou notoriedade pelas críticas à mídia, aos governos de esquerda da Europa e à globalização. Ele costuma ser incluído na tradição francesa do intelectual público e combativo, a exemplo do escritor Émile Zola (1840-1902) e do filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980).


Valores incorporados

O livro A Reprodução (1970), escrito em parceria com Jean-Claude Passeron, analisou o funcionamento do sistema escolar francês e concluiu que, em vez de ter uma função transformadora, ele reproduz e reforça as desigualdades sociais. Quando a criança começa sua aprendizagem formal, segundo os autores, é recebida num ambiente marcado pelo caráter de classe, desde a organização pedagógica até o modo como prepara o futuro dos alunos.


Para construir sua teoria, Bourdieu criou uma série de conceitos, como habitus e capital cultural. Todos partem de uma tentativa de superação da dicotomia entre subjetivismo e objetivismo. “Ele acreditava que qualquer uma dessas tendências, tomada isoladamente, conduz a uma interpretação restrita ou mesmo equivocada da realidade social”, explica Nogueira. A noção de habitus procura evitar esse risco. Ela se refere à incorporação de uma determinada estrutura social pelos indivíduos, influindo em seu modo de sentir, pensar e agir, de tal forma que se inclinam a confirmá-la e reproduzi-la, mesmo que nem sempre de modo consciente.
Um exemplo disso: a dominação masculina, segundo o sociólogo, se mantém não só pela preservação de mecanismos sociais mas pela absorção involuntária, por parte das mulheres, de um discurso conciliador. Na formação do habitus, a produção simbólica – resultado das elaborações em áreas como arte, ciência, religião e moral – constitui o vetor principal, porque recria as desigualdades de modo indireto, escamoteando hierarquias e constrangimentos.


Assim, estruturas sociais e agentes individuais se alimentam continuamente numa engrenagem de caráter conservador. É o caso da maneira como cada um lida com a linguagem. Tudo que a envolve
– correção gramatical, sotaque, habilidade no uso de palavras e construções etc. – está fortemente relacionado à posição social de quem fala e à função de ratificar a ordem estabelecida. Para Bourdieu, todas essas ferramentas de poder são essencialmente arbitrárias, mas isso não costuma ser percebido. “É necessário que os dominados as percebam como legítimas, justas e dignas de serem utilizadas”, afirma Nogueira.


Capital cultural

Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados. Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo senso comum. No campo da arte, a luta simbólica decide o que é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social.


Os indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com o capital acumulado – que pode ser social, cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc.


Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos – que caracteriza o marxismo – e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da força propriamente dita.


Os sutis artifícios da perpetuação

Para Bourdieu, a escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. E este, segundo o sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. Uma mostra dos mecanismos de perpetuação da desigualdade está no fato, facilmente verificável, de que a frustração com o fracasso escolar leva muitos alunos e suas famílias a investir menos esforços no aprendizado formal, desenhando um círculo que se auto-alimenta. Nos primeiros livros que escreveu, Bourdieu previa a possibilidade de superar essa situação se as escolas deixassem de supor a bagagem cultural que os alunos trazem de casa e partissem do zero. Mas, com o passar do tempo, o pessimismo foi crescendo na obra do sociólogo: a competição escolar passou a ser vista como incontornável.


Para pensar

Freqüentemente fazemos, sem perceber, julgamentos severos com base em motivos nada consistentes ou, pior, preconceituosos. Na escola, é comum alunos serem discriminados por causa de sua aparência e seus hábitos. Você já observou como muitas vezes isso é uma manifestação de sentimentos de superioridade de alguns grupos sociais em relação a outros?
Conteúdo relacionado: