Luciana Alvarez - do UOL, em São Paulo
Para incentivar o estudo, cursos a distância exigem dos alunos mais exercícios e produção de textos
Para muita gente, curso a distância é sinônimo de diploma fácil, rápido e sem
grandes exigências. Para a bancária Fabiana Pessôa, 31, também era assim. Até
que ela começou, em 2006, a
cursar as aulas da graduação em administração a distância na UnB (Universidade
de Brasília), um projeto piloto de uma das principais universidades públicas do
país.
“Na época, eu já cursava direito, na
modalidade presencial, e estava indecisa. Quando soube do projeto da UnB, não
tive dúvidas. Pensava que seria uma 'mamata', mas tive que me dedicar
bastante”, afirma Pessôa, que hoje exibe os dois diplomas universitários na
parede. O de administração veio no fim do ano passado, depois de cinco anos de
aulas.
Fabiana Pessôa, que estudou administração a distância na UnB
Em princípio, a vantagem do ensino a
distância (EAD) para Pessôa era ganhar tempo ao não precisar se deslocar
diariamente até a UnB – e ainda poder usar a hora do almoço para estudar. Ela
percebeu, porém, que, além de economizar algumas horas do dia, a modalidade
exigia um nível de dedicação maior do que a versão presencial. “Eu tinha
material para ler e atividades para entregar todos os dias da semana”, conta.
“Acho que me dediquei mais ao curso a distância do que ao presencial”, diz a
bancária, que afirma ter mais facilidade para estudar sozinha do que em sala de
aula, com mais gente.
Quebrando o mito de que os cursos a distância
são mais fáceis do que os presenciais, um estudo feito em 2007 pelo Inep (órgão
de avaliação e pesquisa do MEC) com base nos resultados do Enade (Exame Nacional
de Desempenho de Estudantes, que avalia o ensino superior) apontou que os
alunos de cursos a distância estavam melhor preparados. Em sete das 13 áreas
onde a comparação entre as modalidades foi possível, universitários que
estudavam a distância tiveram desempenho superior aos demais.
Para Pessôa, o curso de administração a
distância não foi fácil. "Tenho colegas que não ainda se formaram porque
reprovaram em algumas disciplinas", diz. Apesar da dedicação ao curso, ela
teve de recorrer a aulas presenciais de reforço aos sábados para vencer um dos
conteúdos. “Matemática financeira era meu ponto fraco”, conta. Hoje, a
bancária diz sentir-se bem preparada como administradora e acredita que o
diploma vai ajudá-la na ascensão profissional.
Quinta tentativa
Em dois meses, Luiz Ricardo Freitas, 34, terá
em mãos seu desejado diploma de administração. Bem-sucedida, esta foi a quinta
tentativa de Freitas de se formar na área –ele já havia começado quatro cursos
presenciais antes de se matricular em administração a distância na Unopar
(Universidade do Norte do Paraná), instituição particular de ensino.
Para poder crescer na carreira administrativa
dentro de um grande banco, ele frequentemente aceitava transferências,
interrompendo a faculdade. Quando foi nomeado para Ibotirama, cidade baiana de
pouco mais de 25 mil habitantes, Freitas pensou que teria de enterrar a vontade
de terminar a faculdade. “Pensava que não teria oportunidade de estudar em uma
cidade tão pequena”, conta. Um polo de EAD na região, porém, fez com que ele
decidisse apostar na modalidade. “Pensei: tem só uma aula por semana, é
tranquilo”, lembra.
Quando começaram as aulas, foi um susto. Na
cidade pacata, Freitas teve de imprimir um ritmo intenso de estudos. “O curso
tinha uma bibliografia extensa, atividades diárias e muita produção de textos.
Percebi que essa modalidade exige mais do aluno”, diz ele, que hoje, mesmo sem
ter terminado o curso, já vê o resultado do esforço: “Passei em sete provas de
certificação interna do banco”, diz.
·
Luiz Ricardo Freitas, que cursou faculdade a partir de uma pequena
cidade no interior da Bahia
Freitas, do alto de sua experiência com cinco
cursos diferentes, é categórico: a modalidade a distância permite que o aluno
aprenda mais do que nos cursos presenciais. “Antes, eu chegava da faculdade
cansado e ia dormir. Então, o que professor falava é o que valia, eu era muito
dependente”, afirma. Ele vivenciou ainda outras duas vantagens no EAD: ao ser
transferido novamente, não precisou interromper o curso – apenas mudou de polo,
mantendo a grade curricular e os professores –, e passou a estudar na hora que
queria. “Pude dar mais atenção a minha família. Chegava do trabalho e brincava
com as minhas filhas. Depois que elas iam dormir, eu estudava.”
Aulas pela TV
Para Fernanda Gonzalez Saback, 27, não foi a
falta de opções de cursos na região que a fez buscar o ensino a distância. Em
2007, Saback morava em Lauro de Freitas, cidade da região metropolitana de
Salvador, e estudava para prestar concursos na área jurídica. Para poupar tempo
no trânsito –e poder estudar ainda mais-, fez as contas. “Levaria uma hora de
carro só para chegar ao curso. Para quem está estudando firme, perder duas
horas por dia com deslocamento é tempo demais”, diz.
Por isso, Saback preferiu fazer o curso
preparatório em modo “telepresencial”, na rede privada de ensino LFG. Nesse
modelo, um professor em outro lugar do Brasil dá uma aula expositiva,
transmitida em tempo real para várias unidades da LFG em todo o Brasil,
incluindo a de Lauro de Freitas. “Fiz dois cursos nesse sistema. Foram ótimos”,
afirma.
Além de facilitar seu deslocamento, ela diz
ter gostado da parte didática. “A aula rende mais porque não há interrupção. O
professor passa o conteúdo durante quatro horas e responde dúvidas enviadas por
email apenas no final da aula”, conta ela, que reforçou o nível de concentração
durante o curso. Para Saback, a dedicação às aulas deu frutos: ela foi aprovada
em um concurso para a Advocacia Geral da União, cargo para o qual foi convocada
em dezembro de 2010.
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